A peleja havia começado há muito. Moleque e já encontrara logo um desafio: o Mandarim Dourado. Nome dado por sua imaginação, pois tal peixe nunca visto ao menos parecido. O que sabia dele, o que realmente sabia, é que tal danada criatura começou a caçoar dele por volta dos nove anos. O açude daí então deixara de ser aquele local de repouso , apesar das águas tranqüilas e a vegetação ao redor. E não vamos esquecer que temos sempre uma sinfonia de pássaros dos mais variados tipos. Mas o diabo do peixe fazia questão de lhe apoquentar. Já não sorria mais ao sentar no açude para pescar. Na verdade, quem sorria era as outras pessoas que também lá estavam. Amigos de infância que costumavam ver essa farra das águas.“Lá vem ele.” – gritavam – “O caçador do Mandarim Dourado”.Isso era falado de longe, meio que numa preparação para a sua chegada.
Seu Alzir ( Sim, por que ele agora já era um homem. Tinha barba na cara e filho no currículo. Este que o acompanhava para a aventura de férias consecutivas.) firmava um ritual em suas épocas de descanso, construídas há mais de trinta anos, sistematicamente no mês de julho (Isso por que teve de se adequar às férias do trabalho. Havia saído da sua terra para ir à cidade grande. Algo relacionado com as melhores oportunidades. Mas ele sempre voltava, assim como um encontro marcado. Já estava prestes a se aposentar e em seu raciocínio construía uma teoria o quanto diferente. Achava que aquele peixe não era mais aquele de sua infância e sim de outra geração. O que piorava a situação do pescador. Imaginava gerações inteiras de peixes que teriam se comprometido com o laço de suas tradições a lhe deixar louco ou quase isso. Ele não falava essas suposições para todos apenas para o seu filho. Menino este magrinho de uns doze anos, que sorria quando ele lhe contava algo do tipo. Achando que seria pensamento característicos de pessoas excêntricas. Eu disse excêntricas? A propósito, o menino gostava de ler, tinha umas palavras estranhas no seu vocabulário. Ele sorria ao escutar as estórias de seu velho pai por lembrar de um Guimarães de num sei das quantas e um conto que se não me engano seria a terceira margem do “açude”. Seu Alzir achava que essas estórias que o filho lia fossem coisas de gente sem ter o que fazer.) ia sempre na mesma bodega para comprar o anzol e a linha de náilon. Era a bodega de Seu Joaquim, que era por sinal pai do pescador, que não sabia nada nem queria saber, do Mandarim. A vara de pesca era pegue a muque nas varas de marmeleiro. Raspada cuidadosamente com uma peixeira virgem, que lhe garantia o respeito por entre possíveis brincadeiras em sua pescaria. A isca era feijão verde, a sua singularidade e reconhecimento do seu desafiante em um mar de anzóis dourados. E ao se aproximar da beira do açude seguia sempre a mesma trilha da barragem. Sentava no mesmo local e usava o mesmo chapéu de palha que o caracterizava.
Vamos sentar com ele agora.
Seu Alzir já está na décima fisgada e isca comida por Mandarim, aquele nojento, segundo o pescador. Nessa foi dado um soco muito forte esperado desde muito. O peixe sai da água e com a força sobe ao céu para acima da barragem, rente ao sol. O valente pescador corre para pegar o infeliz. Os amigos que lá pescavam ficaram estáticos. Mas nem sombra do Mandarim. O menino, que também correu acompanhando os passos do pai, depois de uma hora de procura comentou que o peixe deveria ter subido ao sol e se desfeito em luz. O pai retrucou dizendo que o menino lia demais e procurava de menos. Após três horas a dupla desistiu de procurar. Seu Alzir ficou muito triste. Não chorava porque homem não chora, mas podia se dar ao luxo de ficar triste. E voltou sem querer para o sítio e a sua rede. Olhava para a passagem da rodoviária enquanto se balançava e divagava em sonhos. Voltaria no outro ano de férias com a família? Sua esposa, seu filho e seu Mandarim. Grandes ressalvas.
No outro dia, o menino acordou cedo e após ler um pouco, foi passear pela barragem do açude. Não procurou nenhum peixe, pensava em sonhos. Mas naquela manhã ele viu algo brilhantemente diferente na barragem, dentro de um pneu velho cheio de água. Estava lá . O menino pegou-o como uma criança recém nascida, desceu pela ribanceira até o aceiro. Sorriu e soltou o peixe, dizendo: “Deu empate.”
domingo, 17 de agosto de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário