Consegui guardar dentro dessa caixa
um pouco de lucidez.
Guardo como um último pertence,
fruto de anos de contemplação.
Lá fora...
Lá fora eu tranquei a loucura.
Com seus gritos estridentes
e seu cheiro de novo.
Novo, recém-saído da caixa.
E consigo vê-la na sua dança insinuante,
na sedução repentina de um instante fugaz.
domingo, 30 de novembro de 2008
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
PECADO
- Perdoe-me, Padre, pois eu pequei.
A voz baixa e suave entrava pelo confessionário como se a luz se responsabilizasse por sua entrada quente, morna e delicada.
- Pode falar, filha.
Começou a denunciar-se, os olhos estavam cobertos por óculos escuros. Se estavam cerrados ou arregalados não se sabia.
Cabelos louros, quase ouro, lábios grossos e vermelhos, pele lisa e branca. Pura como a sociedade lhe fizera.
Andava calmamente, não como sempre. Precisava apenas de uma tarde diferente, sem namorado, família, trabalho ou amigos. Voltava-se mais pra si, o tempo necessário para o ego.
Foi ao cinema. Não sabia a que filme assistir, mas foi. Comprou o ingresso. Seção das 15, mas eram 13 e trinta. Então decide percorrer pelo salão do museu e de seus pensamentos. Os quadros não lhe interessavam, estavam longe de seu entendimento ou de sua vontade de entender algo naquele momento. Brincou com seu crucifixo enquanto caminhava, acariciava cristo, isso a entretia.
Olhou para o lado, quando estava se distraindo em desperceber as obras plásticas do famoso artista do Irã.
Encontrou um gesto gentil, quase obrigatório de uma atendente.
Cabelo curto, vermelho, óculos pequenos para não esconder a beleza do rosto.
Deveria ser de prache.
Passou por ela com um andar que atrai desconsertos a olhos desacostumados com o lampejo da carne. Andava como quem pedia... E gravava-se na memória.
Continuou a andar.
Pensa em coincidências e destino, aquela fraqueza dos seres humanos ao tentar ratificar o tesão.
Agora estão a se vigiar.
Informações são dadas a qualquer visitante que se interesse em obtê-las
A conversa acontece.
Arte, filosofia, sorriso, cinema, gesto delicado no cabelo, sociedade, umedecimento de lábios, câmeras, mãos na nuca, discrição.
Quando não, já estavam a percorrer uma escada circular que as levasse para baixo. Sem câmeras (olhos mecânicos) nem indiscrição.
Cabelos soltos, bocas vorazes, mordidas de leve, respiração forte, blusas abertas, seios sensíveis, pele lisa, pêlos ralos, cheiro louco, língua voraz, salgado gostoso, mordidas safadas, mãos ágeis, sussurros roucos, dente, batom, espelho, contentamento.
Volta a encontrar a escada e percorre o caminho de volta, sozinha, apenas com um sorriso safado na boca.
Entra no cinema. Fica de frente à tela. Luzes alternam entre falas distantes.
Nada importa.
- Fui animal confesso e sei que isso não devia ter acontecido.
Correm lágrimas de seu olho e sua fala é fragmentada.
- Perdoe-me... Padre, pois eu pequei.
Após o relato o padre ficou ali, ereto. Os pensamentos voavam. O padre não estava mais lá, só restou o homem.
A voz baixa e suave entrava pelo confessionário como se a luz se responsabilizasse por sua entrada quente, morna e delicada.
- Pode falar, filha.
Começou a denunciar-se, os olhos estavam cobertos por óculos escuros. Se estavam cerrados ou arregalados não se sabia.
Cabelos louros, quase ouro, lábios grossos e vermelhos, pele lisa e branca. Pura como a sociedade lhe fizera.
Andava calmamente, não como sempre. Precisava apenas de uma tarde diferente, sem namorado, família, trabalho ou amigos. Voltava-se mais pra si, o tempo necessário para o ego.
Foi ao cinema. Não sabia a que filme assistir, mas foi. Comprou o ingresso. Seção das 15, mas eram 13 e trinta. Então decide percorrer pelo salão do museu e de seus pensamentos. Os quadros não lhe interessavam, estavam longe de seu entendimento ou de sua vontade de entender algo naquele momento. Brincou com seu crucifixo enquanto caminhava, acariciava cristo, isso a entretia.
Olhou para o lado, quando estava se distraindo em desperceber as obras plásticas do famoso artista do Irã.
Encontrou um gesto gentil, quase obrigatório de uma atendente.
Cabelo curto, vermelho, óculos pequenos para não esconder a beleza do rosto.
Deveria ser de prache.
Passou por ela com um andar que atrai desconsertos a olhos desacostumados com o lampejo da carne. Andava como quem pedia... E gravava-se na memória.
Continuou a andar.
Pensa em coincidências e destino, aquela fraqueza dos seres humanos ao tentar ratificar o tesão.
Agora estão a se vigiar.
Informações são dadas a qualquer visitante que se interesse em obtê-las
A conversa acontece.
Arte, filosofia, sorriso, cinema, gesto delicado no cabelo, sociedade, umedecimento de lábios, câmeras, mãos na nuca, discrição.
Quando não, já estavam a percorrer uma escada circular que as levasse para baixo. Sem câmeras (olhos mecânicos) nem indiscrição.
Cabelos soltos, bocas vorazes, mordidas de leve, respiração forte, blusas abertas, seios sensíveis, pele lisa, pêlos ralos, cheiro louco, língua voraz, salgado gostoso, mordidas safadas, mãos ágeis, sussurros roucos, dente, batom, espelho, contentamento.
Volta a encontrar a escada e percorre o caminho de volta, sozinha, apenas com um sorriso safado na boca.
Entra no cinema. Fica de frente à tela. Luzes alternam entre falas distantes.
Nada importa.
- Fui animal confesso e sei que isso não devia ter acontecido.
Correm lágrimas de seu olho e sua fala é fragmentada.
- Perdoe-me... Padre, pois eu pequei.
Após o relato o padre ficou ali, ereto. Os pensamentos voavam. O padre não estava mais lá, só restou o homem.
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